O que temos neste espaço:

O processo eleitoral no Brasil chegou ao fim. Nesta etapa pós-eleições, este blog continuará acompanhando as análises e desdobramentos da participação dos evangélicos (e da dimensão religiosa) no pleito 2010.

domingo, 7 de novembro de 2010

Boca de urna do Ibope: Entre mais pobres, Dilma teve 26 pontos de folga; entre os Evangélicos apenas 4%

Por AE, Agência Estado
Na votação do último domingo, a petista Dilma Rousseff teve 26 pontos de vantagem sobre o tucano José Serra no eleitorado mais pobre, com renda de até um salário mínimo. Dilma também venceu por larga margem entre os eleitores católicos, mas praticamente empatou com o adversário entre os evangélicos.
Esses e outros detalhes do capítulo final da história da campanha presidencial de 2010 só podem ser conhecidos porque o Ibope, além de sua tradicional pesquisa de boca de urna, realizou no dia da votação uma segunda sondagem domiciliar, com 3.010 eleitores, perguntando não apenas seu voto, mas também, sua renda, religião, escolaridade e cor.
Os números mostram que houve empate - ou vantagem mínima para um dos lados - nos segmentos de mais alta renda e escolaridade. A diferença pró-Dilma se deve ao comportamento dos mais pobres. Na faixa de renda familiar que vai até dois salários mínimos, a candidata do presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve quase 10 milhões de votos a mais que Serra - mais de 80% da vantagem total que abriu sobre o tucano, de aproximadamente 12 milhões de votos.
Dilma venceu entre mulheres e homens, mas com margem maior entre eles do que entre elas. No segmento masculino, a petista teve cerca de 8,6 milhões de votos a mais que o adversário, segundo projeção feita a partir de dados do Ibope. Já as eleitoras deram 3,4 milhões de votos de vantagem à primeira mulher eleita para governar o Brasil.
Em um segundo turno marcado por discussões de fundo religioso, eleitores de diferentes orientações mostraram comportamentos distintos nas urnas.
Os católicos preferiram Dilma por um placar de 58% a 42%. Já entre os evangélicos a pesquisa apontou um resultado de 52% para a petista e 48% para o tucano - como os números estão no limite da margem de erro, não é possível saber quem ganhou, apenas que o vencedor teve margem bastante apertada.
A segmentação do eleitorado por cor indica um placar muito próximo entre os eleitores que se denominam brancos: 52% para Dilma e 48% para Serra. Entre negros, a petista venceu por 30 pontos de vantagem (65% a 35%), e entre pardos, por 20 (60% a 40%). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A investida do timbre religioso

Existe física cristã ou álgebra muçulmana? O 'surto de fé' que abala candidatos e contamina campanhas não fica só na política
Por Sérgio Augusto
Foi duro de aguentar, mas acabou. Aleluia!
Com o fim da propaganda eleitoral acabou também a tartufaria, a inacreditável guerra santa entre Dilma Rousseff e José Serra, o show de contorcionismo ideológico e oportunismo político em que se transformou o segundo turno das eleições presidenciais. Noves fora a escolha dos dois vices, a deslavada guinada religiosa de Dilma e Serra foi o ponto mais baixo de uma campanha com muito Jesus no coração e poucas questões relevantes sobre a mesa.
O aborto é uma questão relevante, mas não sei se mais importante e urgente que a educação, a economia, o meio ambiente e outros tópicos negligenciados ou ignorados pelos dois candidatos, que, de olho no butim eleitoral de Marina Silva, se renderam a uma demagógica disputa para ver quem era mais cristão, mais devoto, mais "a favor da vida". Pareciam concorrer à sucessão de Bento XVI ou do Bispo Macedo, não à Presidência da República.
A pantomima diversionista já definhava, na reta final da campanha, quando o papa entrou em cena, com um conselho aos católicos brasileiros: não ajudem a pôr no Planalto quem defende a descriminalização da prática do aborto. Como o aborto fora insistentemente condenado pela petista e pelo tucano, nas últimas semanas, a tardia e inútil conclamação papal ficou parecendo uma manobra do Vaticano para não deixar o espaço político à mercê da concorrência, uma demonstração de força dirigida aos evangélicos.
Em pleno surto de religiosidade de Dilma e Serra, li, em formato Kindle, o mais novo livro do filósofo e neurocientista Sam Harris, The Moral Landscape (A Paisagem Moral), que acaba de ser lançado nos Estados Unidos pela Free Press. Mais oportuno e inserido no contexto, impossível; principalmente no contexto das eleições americanas da próxima terça-feira, muito mais influenciadas por quizilas religiosas que a nossa.
É uma longa reflexão sobre os limites da religião, qualquer religião, para discutir e regular assuntos de ordem moral e decidir quais valores humanos mais nos dignificam, e uma defesa da autoridade moral da ciência para entender e explicar racionalmente nosso comportamento, nossas maneiras de agir e pensar.
Harris, um dos precursores do Novo Ateísmo, junto com Richard Dawkins e Daniel Dennett, já teve duas obras traduzidas no Brasil: Carta a uma Nação Cristã e A Morte da Fé. Sua intenção desta vez é iniciar uma conversa sobre como a ''verdade moral'' pode ser entendida no contexto da ciência. Por acreditar que a moral é algo indissociável do ''bem-estar das criaturas conscientes'', que o bem-estar depende inteiramente do que acontece no mundo e no cérebro humano, e que as descobertas científicas quase sempre colaboram para ampliar ao máximo o nosso bem-estar, propõe que se reconheçam os cientistas como autoridades também em questões morais. A paisagem do título é um espaço hipotético, com picos (onde o bem-estar é provável) e vales (onde o sofrimento é possível) habitados por distintos modos de pensar e comportar-se, diferentes práticas sociais e códigos de ética, diversas formas de governo etc.
Assim como não existe física cristã ou álgebra muçulmana, não faz sentido que exista uma moral cristã ou muçulmana, provoca Harris. Para ele, as ideias nas quais as religiões trafegam são intrinsecamente divisionistas, repressoras e não raro insensíveis ao sofrimento humano e animal. O homem-bomba nasceu numa mesquita, a mutilação da genitália feminina na Somália tem raízes religiosas, as fogueiras da Inquisição foram bancadas pelo Vaticano.
O Vaticano, insiste Harris, se preocupa mais com a contracepção do que com o estupro. "Isso é uma total inversão de prioridades que desvirtua e amesquinha qualquer discussão moral proposta pela Igreja", cujas práticas, reitera, "não maximizam o bem-estar humano."
Certos valores produzem fatos que podem ser compreendidos e explicados cientificamente. Fatos que transcendem as crenças religiosas e a cultura porque são "fatos de saúde física e mental". Câncer é câncer na Califórnia e no Chade; esquizofrenia é esquizofrenia em qualquer lugar; idem a compaixão e o bem-estar. Com menos vela e mais neurociência e psicologia, acredita o filósofo, saberemos mais sobre nossas emoções, nossos impulsos e os efeitos de leis específicas e instituições sociais nas relações humanas.
Os cientistas não são santos, e Harris tem consciência disso. Já se meteram em inúmeras enrascadas imorais ? justificaram a eugenia da raça, o genocídio, a tortura, o racismo, o colonialismo, a inferioridade da mulher, inventaram armas biológicas, químicas e nucleares, métodos de persuasão para manipular a opinião pública e incentivar o consumo conspícuo, e todo um arsenal tecnológico para controlar as pessoas e a economia ?, mas também nos deram engenhos maravilhosos e instrumentos fundamentais de análise e pesquisa.
Muitos neurobiólogos já estudam a evolução da moral, mas o objetivo de suas pesquisas é apenas descrever como os seres humanos pensam e se comportam, tranquiliza Harris. "Ninguém espera que a ciência nos diga como devemos pensar e comportar. A ciência, oficialmente, não toma partido em controvérsias sobre valores humanos." E que assim continue. Amém.

sábado, 6 de novembro de 2010

A manipulação do aborto

Por Cristiano Aguiar Lopes
Como em um passe de mágica, o aborto tornou-se o grande tema das eleições presidenciais deste ano. Em poucos dias, um assunto para o qual raramente a imprensa volta seus olhares virou a principal pauta de grande parte dos veículos de comunicação, ocupando páginas e mais páginas dos principais jornais e revistas do país. Seria leviano afirmar que o tema foi introduzido na agenda nacional pela equipe de campanha de José Serra – embora o candidato tenha se esmerado em colher seus dividendos políticos. Mas, como mostram dados que levantamos ao longo dos últimos 50 dias – de 1º de setembro a 20 de outubro –, podemos afirmar com absoluta certeza que houve um esforço coordenado e eficiente dos principais jornais e revistas do país para insuflar a polêmica sobre o tema com vistas a um fim eleitoral mais que óbvio: roubar votos de Dilma entre eleitores conservadores contrários à descriminalização do aborto.
Durante estes 50 dias, medimos as menções ao tema "aborto" em 29 publicações – entre elas os jornais O Globo, Folha de S.Paulo e O Estado de S. Paulo; e as revistas Veja e Época. Os dados foram obtidos da resenha diária de jornais e revistas elaborada pela Câmara dos Deputados. Essa resenha privilegia matérias publicadas nas seções "Brasil" e "Política". Se, por um lado, essa mostra pode ter gerado uma sub-contagem do número de menções do termo "aborto", ao não trazer a totalidade das matérias publicadas no período, por outro fez com que essa contagem se focasse em artigos com maior relevância na disputa eleitoral. E, mesmo com essa possível sub-contagem, os números impressionam.


A polêmica e a novidade
Como se pode perceber no gráfico, há um notável desequilíbrio da distribuição das menções ao termo aborto, com dois picos visivelmente pronunciados: em 30 de setembro, com 149 menções, e em 8 de outubro, com 430 menções. Também fica muito visível o timing da publicação de matérias sobre o aborto. A primeira escalada de citações do termo ocorre nos dias 30 de setembro e 1º de outubro, com 149 e 67 menções, respectivamente – estávamos a dois dias do primeiro turno. A segunda se inicia logo depois do dia das eleições: 37 menções em 4 de outubro, 79 no dia 5, 219 no dia 6, 343 no dia 7 e impressionantes 430 no dia 8. Salta aos olhos o objetivo eleitoral desse timing.
A primeira escalada ocorre pouco antes do primeiro turno e tem como objetivo conquistar os votos de indecisos e de dilmistas não muito convictos. A segunda, bem mais intensa, busca transferir para Serra os votos de um grande contingente de eleitores conservadores – sobretudo católicos e evangélicos – contrários à descriminalização do aborto. Bom ressaltar que a segunda escalada ocorre na primeira semana após a realização do primeiro turno, justamente o período em que a maior parte daqueles que votaram em candidatos derrotados decidem o seu voto para o segundo turno.
Corrobora essa tese o fato de que, em uma análise qualitativa preliminar das matérias pode-se notar a construção simbólica de duas forças antagônicas sobre o aborto: Dilma, a ateia, cujas declarações contraditórias revelariam sua verdadeira opinião em favor da descriminalização da prática; e Serra, o religioso, que seria historicamente contrário à descriminalização. Ressalte-se que esta análise qualitativa ainda está sendo realizada, mas os primeiros dados corroboram fortemente a tese da construção desse antagonismo simbólico.
Uma mente mais cética questiona: não poderia ter sido isso uma grande coincidência? O tema aborto não teria entrado em pauta e ganhado tanto destaque simplesmente por um acaso do destino? Uma regra de ouro para um tema entrar ou não em pauta é o seu valor-notícia. E, dentre diversos fatores, dois são fundamentais no cálculo desse valor: a polêmica e a novidade. Caso encontrássemos fatores que dessem ao aborto esse valor-notícia estrondoso, que justificasse uma cobertura mais que intensa da mídia brasileira e justamente em momentos cruciais da definição das eleições, nossa hipótese iria por água abaixo.

Ação que empobreceu o debate
Que há polêmica sobre o aborto, não resta dúvida. Mas, e a novidade? Havia fatos novos que justificassem a publicação de matérias sobre o aborto justamente nesses períodos críticos das eleições? E há valor-notícia que justifique a manutenção de níveis altos de menção ao aborto nesse período entre o primeiro e o segundo turno das eleições? Pelo que pudemos analisar, a resposta é não para todas as questões. O único fato verdadeiramente novo sobre o tema que encontramos na mostra analisada ocorreu em 23 de setembro, no debate entre presidenciáveis organizado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Na entrada do auditório da Universidade Católica de Brasília, onde foi realizado o debate, um grupo de 15 católicos e evangélicos estendeu uma faixa na qual se lia: "Dilma Anticristo, nós cristãos não matamos". Segundo eles, Dilma seria a favor do aborto.
O acontecimento gerou 40 menções ao termo aborto nos jornais no dia 24 de setembro. E só. Pouco se falou sobre o tema nos dias seguintes. Até que, no dia 30/9, houvesse 149 menções ao termo devido à promessa de Dilma de não legislar sobre o tema. A declaração era resposta a uma onda de boatos, que havia se intensificado na internet nos dias anteriores, segundo os quais a petista seria favorável ao aborto. E a partir daí os únicos acontecimentos novos foram especulações ou declarações de ambos os candidatos sobre o tema.
O número de menções ao termo aborto, a falta de elementos jornalísticos que justifiquem tantas matérias sobre o tema e o timing de concentração das menções, que coincidem com momentos críticos das eleições, demonstram que a grande imprensa exerceu um papel fundamental no agendamento do tema aborto, com intuitos eleitorais muito evidentes. A ação da mídia empobreceu e continua empobrecendo o debate eleitoral ao quase centralizar a disputa em um único tema. Perde o eleitor. Perde a opinião pública. Perde o país. Mas ganhamos nós, analistas da mídia, que podemos observar em tempo real e com grande riqueza de detalhes as peripécias que a nossa imprensa anda realizando.

Cristiano Aguiar Lopes é jornalista e consultor legislativo da Câmara dos Deputados. Fonte: Observatório da Imprensa: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=613JDB002

A instrumentalização da religião

Por Paulo Cezar Soares


Mas o que sai da boca vem do coração, e é isso que contamina o homem ( Mt 15.18) Eleição guarda algumas semelhanças com a Copa do Mundo. Além do período em que são realizadas, de quatro em quatro anos, as pessoas passam a falar do assunto, emitem suas opiniões, seus veredictos. Mas a verdade é que a maioria não tem o hábito de acompanhar no dia-a-dia o futebol, nem a política.
Em conversas informais sobre política, certamente você já ouviu comentários do tipo: não vou votar em ninguém; político é tudo farinha do mesmo saco; político é tudo ladrão. Não é verdade. Há uma série de políticos sérios, éticos, que de fato trabalham visando ao bem-estar social do povo. Muitos arriscam a própria vida quando combatem tenazmente o crime, como é o caso, por exemplo, do deputado estadual Marcelo Freixo. Sua atuação parlamentar contra as milícias no Rio de Janeiro é retratada no filme Tropa de Elite 2. Portanto, não convém generalizar. Nem confundir política com politicagem, forma eticamente condenável de atuação política.
Muitos dizem: sou apolítico. Quantas vezes você já ouviu isso? Não existe o cidadão apolítico. Político todos nós somos, de uma forma ou de outra. De forma velada ou não. Política, por definição original "é o conhecimento, a participação, a defesa e a gestão da polis" (cidade-Estado, na Grécia Antiga). Portanto, ser político é algo inerente ao ser humano.
Na verdade, as pessoas que não acompanham a política partidária, são suscetíveis; costumam dar crédito a boatos, factoides e assemelhados. São vítimas fáceis de sofismas.

Canção velha
Tendo como base o perfil dessas pessoas, o candidato tucano à presidência da República, José Serra, aposta todas as suas fichas. Na falta de projetos que sensibilizem o povão, e tendo como adversária uma candidata que representa um governo que mudou a estrutura social do país, imprime um tom agressivo e difamatório na sua campanha. Acusa sem provas e mente quando diz ter sido o idealizador do FAT – Fundo de Amparo ao Trabalhador e do seguro desemprego, importantes projetos de cunho social: o primeiro foi criado pelo ex-deputado federal Jorge Uequed (PMDB-RS), e o segundo por José Sarney.
Na busca desesperada por algum tema que possa melhorar o seu desempenho, Serra trouxe para a campanha o aborto, explorando-o de todas as formas, a exemplo de pastores evangélicos e padres retrógrados e proselitistas, numa clara instrumentalização de uma questão de religiosa e de saúde pública. A questão do aborto, a descriminação das drogas, entre outros temas, não deve ser balizada por nenhum segmento religioso, tampouco ser objeto de análise durante uma eleição. O palco correto é o Congresso Nacional.
O Brasil não é um país teocrático, e sim, laico. Exemplo para o mundo. Em solo brasileiro cidadãos de todas as religiões e nacionalidades convivem na mais perfeita paz e harmonia. Mas para a oposição nada disso importa. Durante um programa ao vivo da TV Canção Nova (da Igreja católica), um padre decidiu dar sua colaboração para a campanha do candidato José Serra. Acusou Dilma Rousseff de "abortista" e contrária aos princípios evangélicos. Pediu aos fiéis que não votem na candidata petista e disse "que o PT é a favor da interrupção de gestações indesejadas." Ressaltou "que poderia ser preso ou morto por causa das suas declarações", como se o PT usasse tais práticas.

Com ética e sem preconceito
Ao invés de proclamar o evangelho do amor, como Jesus nos ensinou, e que certamente o referido padre aprendeu na faculdade de teologia, preferiu usar o púlpito para fazer acusações gravíssimas, de cunho político, sem qualquer base de sustentação. Afirmou também que o PT e sua candidata pretendem "aprovar leis que cerceiem as liberdades de imprensa e religiosa, aprovar a celebração do casamento entre homossexuais, e que têm a intenção de transformar a nação brasileira em nação comunista".
A candidata Dilma Rousseff pediu direito de resposta ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra a emissora católica Canção Nova.
A despeito da maturidade do processo democrático brasileiro, ainda há aqueles que praticam uma política antiquada e antiética. Não respeitam nada, pois o que importa é ganhar. Maquiavélicos, apelam para a hipocrisia e a difamação. Como vencê-los? Votando com ética e sem preconceito.

Paulo Cezar Soares é jornalista. Fonte: Observatório da Imprensa http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=612FDS009

Imprensa e igrejas, os grandes derrotados na eleição 2010

Por Ricardo Kotscho

Ganhe quem ganhar a Presidência da República já dá para saber quais foram os grandes derrotados desta inacreditável campanha eleitoral de 2010: a imprensa da velha mídia, mais engajada e sem pudor do que nunca, e as igrejas em geral, com amplos setores medievais de evangélicos e católicos transformando templos em palanques e colocando a religião a soldo da política.
Por acaso, são as mesmas instituições que se uniram em 1964 para derrubar o governo de João Goulart e jogar o Brasil nas profundezas da ditadura militar por mais de duas décadas. Como naquela época, os celerados e ensandecidos combatentes das redações e dos púlpitos acenam com novas ameaças às liberdades democráticas, outra vez o perigo vermelho, de novo a degradação dos costumes. Só falta uma nova “Marcha da Família, com Deus pela Liberdade”.
Nem parece que se passou quase meio século, que o Brasil lutou e reconquistou a democracia e vivemos em pleno Estado de Direito um dos mais longos períodos de amplas liberdades públicas de nossa história, com crescimento econômico, distribuição de renda e desenvolvimento social.
Faço esta constatação com muita tristeza, com dor na alma, pois a imprensa e a religião católica são importantes na minha vida desde menino, foram duas instituições fundamentais na minha formação. Sempre tive muito orgulho de ser jornalista e de professar a fé católica. Agora, confesso, que muitas vezes sinto vergonha. Explica-se: sou do tempo de Cláudio Abramo e D. Paulo Evaristo Arns. 
Cursei o ginásio num colégio de padres e, no meu teste vocacional, fui informado de que deveria seguir o sacerdócio. Só não o fiz por causa desta bobagem de que padre não pode ter mulher, ou seja, tinha que ser celibatário. É que já na época gostava muito do chamado sexo oposto e detestava a hipocrisia.
Acabei optando muito cedo por outro tipo de sacerdócio, o jornalismo, profissão na qual comecei com 16 anos, trabalhando em jornais de bairro de São Paulo. Nunca me arrependi. Nestes 46 anos de ofício, passei pelas mais diferentes funções, de repórter a diretor, nas redações de praticamente todas as principais empresas de comunicação do país, com exceção da revista Veja e da TV Record.   
Agora, ancorado aqui na internet com o meu Balaio e na Brasileiros, uma revista mensal de reportagens que ajudei a criar, acompanho de longe esta guerra santa em que se transformou a campanha presidencial, com igrejas, jornalistas, padres e pastores tomando partido fanaticamente a favor de uma candidatura e contra a outra.
Jamais tinha visto nada parecido na cobertura de uma eleição _ tamanhas baixarias, tantos preconceitos, discursos tão vis e cínicos, textos inacreditavelmente sórdidos publicados em blogs e colunas _ desde os tempos em que não podíamos votar para prefeito, governador nem presidente da República.  
No melhor momento social e econômico da história recente do país, chegamos ao fundo do poço na política. O Brasil não merecia isso. O problema é que, qualquer que seja o resultado da eleição, no dia seguinte a vida continua, e um terá que olhar na cara do outro, seja de que partido ou igreja for, leitor, ouvinte ou telespectador. Como sobreviverão estas duas instituições? Com que cara?
Na véspera do golpe dentro do golpe que foi o Ato Institucional Nº 5 decretado pelos militares, em dezembro de 1968, o Estadão publicou o editorial “Instituições em Frangalhos”, e a edição foi apreendida. Agora, pode publicar o que quiser e apoiar o candidato que melhor lhe convier sem correr este risco.  
Orgãos de imprensa e igrejas, jornalistas e religiosos, têm todo o direito de escolher seus candidatos, fazer campanhas por eles, detonar os adversários. Só não podem fingir que são santos e pensar que nós todos somos bobos.


A Igreja Católica nas eleições

Por Robson Sávio Reis Souza
As eleições presidenciais deste ano tiveram dois poderosos partidos que não estão oficialmente registrados na Justiça Eleitoral, mas que foram fundamentais na pauta do debate político, principalmente no segundo turno. O primeiro partido é o da Grande Mídia. A grande imprensa prestou um enorme desserviço à democracia brasileira ao apresentar-se como partido político. Pautou todo o segundo turno da campanha.
Analisando os principais temas do debate entre os dois candidatos, salta ao olhar até de um desatento que toda a temática, principalmente aquela alavancada pela campanha de Serra, foi criada artificialmente pela mídia. Qualquer pessoa poderá fazer um retrospecto do segundo turno a partir da pauta ostensivamente apresentada pelos veículos de comunicação. E neste sentido é lamentável que o renitente "quarto poder", a cada nova eleição, mesmo transmutado em (mentirosa) isenção, continue na frustrada tentativa golpista de determinar os rumos do país, a partir dos interesses escusos responsáveis pela assunção e consolidação da grande mídia nas terras tupiniquins.
O outro partido, objeto desta análise, é o das religiões. Aqui, um recorte específico ao papel da maior das igrejas presente em nosso país, a católica romana, nestas eleições. Dois projetos de Brasil estiveram em jogo no segundo turno das eleições presidenciais. E no interior da Igreja católica grupos antagônicos se evidenciaram durante o processo eleitoral, principalmente no segundo turno.

"Igrejas atreladas aos interesses dos poderosos"
De um lado, estava a Igreja das catedrais: aquela que sempre esteve ligada aos ricos e poderosos. Que aprecia a ostentação e o luxo. Que vive de uma fé desencarnada, exorcizando em rituais pirotécnicos as injustiças cometidas contra a maioria dos miseráveis e excluídos brasileiros. Os setores conformados com as elites opressoras que pregam um deus do conformismo, da resignação, que não se importam com os clamores do povo e estão alheios à opressão imposta pela política neoliberal, pelo capitalismo selvagem, pela cultura do espetáculo – enfim, pela civilização do egoísmo, do individualismo e da morte.
É a igreja que gosta de chamar o povo de "fiel": ovelhas mansas, meio hipnotizadas, sem autonomia, que não têm consciência crítica da realidade e que acham que o reino de Deus só é possível depois da morte. Esse grupo está horrorizado pelo fato de que a maioria dos pobres brasileiros, depois quinhentos anos de submissão político-eclesial, passou a ter voz e vez. Os pobres não carecem mais de certas mediações (intérpretes divinos) que não os libertam; ao contrário, os oprimem. Parte dos membros dessa igreja criticam os programas assistenciais do governo numa paradoxal contradição com a prática desses mesmos segmentos eclesiais que sempre defenderam a esmola – que submete e oprime o pobre, sem libertá-lo e promovê-lo à dignidade de cidadão.
Existem, obviamente, muitos grupos eclesiais intermediários, que oscilam entre a cultura da promoção humana ou do assistencialismo às pessoas. Mas existe uma significativa parte de cristãos católicos, que tem se avolumado, formada pela igreja das capelas: as milhares de pequenas capelas, inacabadas, sem qualquer possibilidade de luxo, espalhadas pelas periferias das grandes cidades, pelos recantos e grotões das áreas rurais.
Os membros desse modelo de igreja defendem um projeto de Reino de Deus que pode ser realizado aqui na terra, protagonizado pelo povo sofrido (aquele mesmo povo que foi liberto pelo Deus de Jesus Cristo da opressão do Egito, como está escrito na Bíblia). Uma igreja a partir da experiência da "vida e morte Severina" – a imagem-síntese das desventuras de nosso povo sofredor. Nesta igreja, o pobre ocupa um lugar epistemológico central; ou seja, o pobre, maioria dos brasileiros, constitui o lugar a partir do qual se articula o conceito de Deus e a missão da igreja no mundo.
Como escreve Leonardo Boff, "a partir da perspectiva do pobre nos damos conta do quanto as atuais sociedades são excludentes, do quanto as democracias são imperfeitas e as religiões e Igrejas atreladas aos interesses dos poderosos" (Dignitas Terrae: grito da terra, grito dos pobres. São Paulo, Ática, 1995).

Um grito retumbante de continuidade
Entre a igreja da cristandade, aquela que mantém estreita relação com os poderosos, e a Igreja dos pobres existe um abismal fosso. Uma cristologia de tipo ocidental e europeu, marcada pelo signo da dominação dos mais fortes e submissão dos fracos, e uma cristologia que procura reinterpretar o Evangelho tendo como referência as injustas situações das maiorias empobrecidas e oprimidas, resultado do capitalismo colonialista e do neoliberalismo econômico que permitem a uma minoria privilegiada, cerca de 20% dos comensais humanos (mesma porcentagem em relação à população brasileira), sentar-se no banquete dos bens terrestres, em detrimento de quase 80% dos filhos de Deus, que clamam por justiça.
Não há porque temer essas disputas e lutas dentro da igreja católica. As divergências entre esses e outros grupos têm aspectos positivos, pois têm propiciado a reinvenção de uma Igreja, no Brasil, que nasce do povo oprimido e sofrido e que, a partir dessa base, pode ser protagonista na construção de uma sociedade mais justa, solidária e fraterna.
O resultado do segundo turno das eleições mostrou, claramente, que a Igreja das Capelas falou mais alto e, democraticamente – em paradoxal oposição ao modelo da Igreja das Catedrais –, prevaleceu sua vontade: seu grito retumbante de continuidade, com mudança.

Roberto Sávio Reis Souza é doutor em Ciências Sociais.
Fonte: Observatório da Imprensa. http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=614FDS002

sexta-feira, 5 de novembro de 2010



Por Edir Macedo

A título de alerta, queremos chamar a atenção dos cristãos sinceros. Cuidado com o ecumenismo disfarçado!
A guerra das eleições acabou. Entre salvos e perdidos, o maior prejudicado foi o Reino de Deus. Isso porque se viu alguns líderes, supostamente convertidos, unindo-se de corpo, alma e espírito à liderança romana em favor do candidato das elites. Se tivessem se entregado ao Senhor Jesus da mesma forma como abraçaram a campanha política, jamais e em tempo algum se submeteriam a tamanha heresia.
A gravidade do problema não está apenas nos interesses pessoais, mas, colocá-lo acima dos interesses do Reino de Deus. O servo de Deus serve a Jesus, não a si mesmo. E, se alguém Me servir, o Pai o honrará. João 12.26. A pergunta que se faz agora, após os resultados da eleição é: cadê a honra dos profetas velhos?
Por conta da vocação, a obrigação do pastor é se sacrificar para conduzir seu rebanho aos pastos verdejantes. Essa é a nossa obrigação diante de Deus e do mundo; não abrir a porta do aprisco e conduzir as indefesas ovelhas para a matilha de lobos.
Posto que miríades de pessoas se aglomeraram, a ponto de uns aos outros se atropelarem, passou Jesus a dizer, antes de tudo, aos Seus discípulos: Acautelai-vos do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia. Lucas 12.1

Fonte: Blog Bispo Macedo http://bispomacedo.com.br/blog/